Estamos no começo do ano, tradicionalmente um período que pensamos nas nossas metas, revemos nossas conquistas, projetamos algumas novas conquistas.
Entretanto, como a pandemia do coronavírus ainda não se resolveu, essas ideias parecem perder um pouco a força. Não é que não sejam importantes, a questão é que no atual contexto ainda não podemos relaxar e voltar a esse ‘antigo normal’, e continua sendo mais importante focar e promover o isolamento social o máximo possível, o uso de máscaras em qualquer interação com pessoas que não convivam junto, a lavagem ativa e frequente das mãos, a preocupação com quem está na linha de frente dos atendimentos aos doentes, o apoio possível a quem está em situação de vulnerabilidade…
Neste momento de cansaço em pleno começo de ano, a palavra que me vem à mente é CORAGEM. Coragem vem de coeur (coração) e age (agir), ou seja, coragem é agir com o coração. Compartilho aqui um dos textos que compõe nosso livro colaborativo “Mães na quarentena” na versão estendida (ebook). Seja no começo da pandemia, seja agora quase um ano depois, a potência de um relato escrito por uma mãe representa isso: pura coragem!
Boa leitura!
Ana Basaglia
Em tempos de Coronavírus
Tudo aconteceu tão de repente, estávamos no 3º mês do ano, aliás, 2020 estava apenas começando, afinal, aqui no Brasil, é após o Carnaval que tudo se inicia.
As primeiras semanas foram confusas, o meu pequeno Tom, nos seus 2 anos e meio, queria sua rotina de volta: escola, aulinhas, almoços nas bisas e passeios e a gente tentava compreender qual seria a gravidade da situação e como daríamos conta das atividades e do planejamento anual.
Calmamente fomos explicando ao pequeno sobre a pandemia, que na sua ingenuidade, entendeu o momento como as suas últimas férias, porém, diferentemente daquela época, não poderíamos sair de casa e ver presencialmente os amigos e familiares tão queridos.
As chamadas de vídeo se tornaram frequentes, mas nada substitui os abraços e beijos.
Aos poucos novos hábitos foram sendo inseridos: o uso das máscaras, as higienizações do delivery, algumas aulinhas online, o pai e a mãe praticamente o dia todo em casa tentando conciliar as tarefas domésticas e o home office.
Os sentimentos oscilavam, de dias felizes, especialmente gratos por todos estarem saudáveis, para dias caóticos, em que a irritabilidade, ansiedade, frustração, insegurança e angústia teimavam em aparecer na casa; afinal, as perguntas sobre o futuro eram várias, mas a maioria sem resposta.
Gestantes tiveram que mudar os planos de parto, a sobrecarga materna ficou ainda mais evidente e houve o aumento da violência doméstica e dos índices de ansiedade e depressão. Muitas pessoas tiveram que se reinventar.
Com o passar dos dias fomos montando uma nova dinâmica, trabalhando com o possível, entendendo ser normal a alternância de momentos bons e ruins, tentando cuidar da saúde física e mental, dialogando e entendendo que seria uma fase marcada para sempre em que as famílias teriam inúmeras oportunidades de refletir sobre o que realmente importa na vida, vivendo intensamente com os seus companheiros, companheiras e filhos e trabalhando a criatividade, paciência, empatia, solidariedade e resiliência.
Relato de Stella Calvi Franco Penteado, 35 anos, mãe do Tom, Itatiba/SP, psicóloga perinatal e parental