Há muitos anos, venho trabalhando com a alimentação de crianças, especialmente com a de bebês e isso gera um estranhamento por parte de muitas pessoas. Mas por que alguém tão pequeno vai precisar de atendimento de nutricionista?
Será que estamos tentando “gourmetizar” algo tão natural, que é o ato de comer?
Quando me perguntam qual a necessidade da família receber orientação no período da introdução alimentar, eu questiono o quanto esses adultos têm acesso a informações atualizadas e sentem-se seguros sobre esse momento. Quanto às informações, é muito importante conhecer as recomendações construídas com base em evidências científicas, mas também entender que elas são realizadas para a população como um todo. Assim, algumas especificidades de um bebê não estarão lá contempladas. Além de pensarmos em situações relacionadas à saúde ou doenças, um profissional será aquele que te ajudará a pensar de acordo com o comportamento do bebê, com a rotina da casa e com as características socioeconômicas e culturais da família. Um exemplo: se o seu filho dorme a partir das 6 da tarde, como você seguirá a recomendação para oferecer o jantar a partir dos 7 meses? Outra: como ajustar a alimentação de um bebê cuja mãe acabou de voltar a trabalhar e não receberá mais leite em livre demanda? E que cuidados são necessários quando o bebê é de uma família vegetariana?
Algo que percebo depois de ouvir e auxiliar tantas famílias é que o apoio adequado nesse momento favorece que dificuldades futuras possam ser amenizadas. Já ouviu falar nos primeiros mil dias? É um período da gestação até o bebê completar 2 anos.
Sabemos que o quão melhor for o cuidado nesse período, temos maiores chances de ter uma boa saúde ao longo de toda a vida. Existem trabalhos, inclusive, que mostram um impacto nas próximas gerações. Esse é um motivo mais do que válido para proteger a saúde da primeiríssima infância.
Saiba que o cuidado na infância não compete só ao pediatra. O trabalho multiprofissional conseguirá mais facilmente garantir um olhar integral à criança e suas complexidades. Considerando isso, no mês passado, eu lancei um livro com duas colegas de profissão e grandes amigas, a Ana Maria Cervato-Mancuso e a Samantha Caesar de Andrade. É o “Alimentação e Nutrição para o Cuidado Multiprofissional”, pela editora Manole.
Ele está organizado nos diferentes ciclos da vida, os seja, tem uma parte para gestantes e puérperas, outra para os bebês, crianças etc. Eu cuidei do módulo destinado à alimentação e nutrição dos bebês, que traz grandes autoras da área falando sobre manejo, proteção e defesa do aleitamento materno, desenvolvimento e crescimento infantil e alimentação complementar com autonomia. Convido você a conhecer essa obra que foi preparada com tanto carinho!