Tem dias que chove
Lá fora e aqui dentro
Uma gangorra que sobe e desce
Um carrossel que gira, gira, gira
Levanta, faz café, lava a mamadeira…
Logo o tempo passa… arruma a cama, o cansaço e a exaustão sentimental não deixam que o sono apareça.
Eu penso: é difícil ser presente, estar presente e ser presente?
Pergunto-me se eu já deixei de ser presente?
E enquanto eu penso, a água do chimarrão enche a cuia e começa a derramar-se no chão.
E meu cérebro desligado percebe, mas sem forças para qualquer reação.
Meu rosto cansado, meus olhos piscam insistentemente tentando acordar.
Tentando fazer tudo da cama.
Eu nem percebo mais o choro das crianças,
Tem vezes que o sorriso de uma me salva o dia.
Tem dias que eu só queria ser salva pelo meu marido.
Sentir de novo o frio na barriga, o doce do beijo adolescente, o cheiro do perfume.
Mas… o que eu sinto é: que o banho tem que ser rápido, a comida tem que estar na mesa, a louça tem que ser lavada e enquanto eu penso isso, meu marido me fez outra pergunta e estou olhando para ele e nem mesmo ouvi.
De volta ao pensamento: voltar para minha cama e tentar fazer tudo de lá.
Bruna, 26 anos, mãe do Theo, babá do Bernardo, mora em Curitiba/PR e é professora.
Texto inédito, não publicado no livro Mães na Quarentena.