No próximo domingo, dia 8 de agosto, se encerra a Olimpíada 2020, edição 2021, e quero propor aqui algumas reflexões a respeito do destaque interessante que as mulheres, brasileiras e estrangeiras, andam alcançando.
Começo falando da Rayssa “Fadinha” Leal, a maranhense que, aos 13 anos, ganhou uma inédita medalha de prata na inédita categoria do skate em jogos olímpicos. Rayssa é a atleta brasileira mais jovem a participar de uma olimpíada e a mais jovem a levar uma medalha pra casa. O que chama atenção é o apoio familiar que sempre recebeu: ela ganhou o primeiro skate do pai aos 6 anos, seu primeiro video viralizado nas redes sociais foi gravado e publicado pela mãe (e veio daí seu apelido, porque ela vestia uma fantasia de fada nesse dia). O que aprendemos com essa história: apoio familiar importa e faz muita diferença na vida de uma pessoa.
Outras brasileiras também se destacaram no skate feminino, mas vale citar a campeã mundial Karen Jonz que, em Tóquio, compareceu como comentarista especializada. Ao narrar as manobras do esporte na TV, a santista desmontou comentários machistas, arrebanhou (mais) fãs, aproximou o esporte das pessoas, foi espontânea e autêntica. Sua participação na telinha mostrou que mulheres podem e devem ocupar os espaços que quiserem. Karen tem uma filha de 5 anos e em seu canal no Youtube sempre falou abertamente da rotina pesada do esporte de alto rendimento, inclusive do período desafiador do seu puerpério e amamentação.
Penso que o principal recado de Karen pra todas nós é que devemos sempre lembrar dos motivos que nos levam a buscar as coisas em nossas vidas; se é criatividade, liberdade, prazer, que a gente não perca isso de vista, mesmo se o mundo estiver com os olhos pregados em nós. Karen refez sua rota (busquem suas entrevistas na internet) e brilhou novamente, feliz da vida.
Falando em refazer rotas, repensar nosso lugar no mundo, sentir o peso dos olhares nas nossas costas, é impossível não relembrar a ginasta estadunidense Simone Biles. Aos 24 anos, a recordista chegou em Tóquio com a certeza de ganhar todas as medalhas em jogo, em vista de sua trajetória vitoriosa incontestável. Mas a jovem sentiu o peso dessa expectativa toda. E, dias antes de disputar as finais, ela simplesmente desistiu. Simplesmente é modo de dizer, claro, não deve ter sido uma decisão fácil. Biles apontou que a imensa pressão que estava sentindo deixou de fazer sentido e decidiu priorizar sua saúde mental, ao invés de competir desequilibrada. “Não somos apenas atletas. Somos pessoas, afinal de contas, e às vezes é preciso dar um passo atrás”, afirmou. Sim, moça, às vezes é saudável mesmo dar um passo atrás, que bom que você percebeu e fez esse movimento.
Ainda no campo da ginástica, como não se emocionar com as medalhas da Rebeca Andrade, né? Menina de origem simples, criada com mais 8 irmãos pela mãe diarista num bairro periférico na Grande São Paulo, a ginasta quase desistiu de competir após uma cirurgia no joelho em 2015, mas foi incentivada pela mãe: “filha, não pare antes de tentar”. Depois do caminho aberto por outras ginastas brasileiras (oi Daiane, oi Jade, oi Daniele, a gente também ama vocês!), este ano o mundo aprendeu a admirar o “Baile da favela”!
Certamente, parte da pressão sentida pelas esportistas vem do fato do governo japonês não ter autorizado a viagem de familiares junto com as delegações, por conta das rígidas medidas sanitárias, especialmente entre as atletas que têm filhos pequenos. Muitas declararam, como a jogadora de basquete canadense Kim Gaucher, que se viram forçadas a escolher entre ser atleta mãe ou ser atleta olímpica. Após pressão, as atletas mães de crianças em aleitamento receberam autorização pra hospedarem seus filhos em hotéis ou acomodações particulares, mas não nos alojamentos olímpicos. Infelizmente, essa flexibilização não é suficiente para garantir que elas se sintam plenamente acolhidas. Os atletas homens, pais ou não, não se posicionaram… As coisas avançam, mas nem tanto, né?…
Muitas outras histórias e medalhas mereceriam ser contadas aqui, como a recusa das atletas mulheres de exporem seus corpos em uniformes sexualizados ou o pedido (não atendido) por toucas de natação que acomodem cabelos volumosos, mas não haverá espaço. O que eu quero mesmo é chamar atenção para a importância do apoio do núcleo parental (ou próximo) na formação de uma pessoa, para o valor de perseguirmos o sucesso (no nível que for) com alegria, prazer e equilíbrio, para a necessidade de lutarmos pelo reconhecimento das nossas amplas características enquanto pessoas. Que nós sejamos impactadas com as histórias de superação dessas mulheres potentes, mesmo sabendo que as boas conquistas não são frutos apenas de seu empenho pessoal, mas também do empenho coletivo.
É como Rebeca declarou: “Meu foco não são as medalhas, mas me sentir pronta, me sentir feliz e me divertir”. Que nessa vida a gente sempre possa prosseguir pronta, feliz e se divertindo em tudo que faz, seja na maternidade, nos esportes, na vida profissional, na política, em tudo!
ps1: e eu nem falei da #SMAM2021, né? É que aqui na editora é sempre tempo de falar de amamentação… 😉
ps2: e sim, eu sei, neste domingo é #DiadosPais. Sei que isso pode ser visto como uma data comercial (ou como #DiadaFamília), mesmo assim desejo que o dia aí tenha muito afeto e respeito e amor e boas lembranças, vividas e por viver!
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Ana Basaglia, publisher da Ed. Timo, foi uma ginasta invencível – pelo menos ela se imaginava assim, em seus devaneios infantis!