Estar em casa e lidar com as demandas de um bebê 24h por dia é meu life style há 20 meses.
Pelo menos isso não era novidade por aqui quando o isolamento começou e agora não temos mesmo pra onde correr mais. O melhor que podemos fazer enquanto família é aproveitar essa fase pra extrair o que tem de bom nela: a possibilidade de nos enxergar na conexão com as nossas crias.
Talvez não seja sobre “não estar dando conta do meu filho”, e seja sobre não estar dando conta do encontro que faço comigo mesma em tempos de ócio e silêncio.
Porque sem pedir licença a vida nos convocou a viver o presente, nos colocando cara a cara com uma realidade que não mudou, nem jamais mudará: só o que temos é o agora.
Existe um convite sorrateiro para que a gente faça as pazes com o relógio, reveja nossa relação com o tempo. A gente pode abraçá-lo ou desprezá-lo, a escolha é de cada um.
Se não está dando pra viver mais no “quando tudo isso passar eu vou…” – porque essa ficha já caiu: não fazemos a menor ideia de quando isso vai acontecer –, o que podemos fazer hoje?
Tenho procurado valorizar as entrelinhas das coisas simples da vida.
Numa tarde ensolarada dessas, o confinamento me oportunizou ver meu filho, em cima do pufe, com os bracinhos apoiados na janela, balançando as mãozinhas e falando com tudo o que via pela frente: “Flor, tchau, tchau; Potinho, tchau; Relógio, tchau, tchau; Pombo, tchau, tchau…”
O frescor e a ternura daquela cena puderam me mostrar que, mesmo com tudo o que tem acontecido lá fora, existe poesia no nosso ninho, e isso tem nos bastado para nos confortar nesse momento.
Coisas boas, momentos graciosos como esse estão acontecendo nesse caos e a gente só dá conta de passar por isso tudo sem acumular tantas cicatrizes se conseguir enxergá-los.
Por isso vejo também uma circunstância favorável para a gente se abrir e receber o bem e o bom de se estar em casa entre os nossos.
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Texto originalmente recebido para compor o livro “Mães na quarentena”, enviado por Debora Takatsuji.
A quarentena foi muito mais do que jamais poderíamos imaginar, mas a possibilidade de encontrarmos poesia no meio do caos continua sendo uma alternativa viável para nós, não?… E tá chegando a primavera, tempo (re)florescer!