A pandemia como justificativa no aumento das taxas de cesáreas

Qual é a taxa ideal de cesárea em uma determinada população?

Ao longo de muitos anos, as taxas de nascimento têm sido monitoradas pela Organização Mundial de Saúde, para entender e classificar os índices e marcos importantes para a escolha desse procedimento nos diversos países do mundo.

Segundo a OMS, desde 1985 a comunidade médica internacional considera que as taxas ideais de cesárea fiquem entre 10% a 15% mas na prática não é o que acontece.

A Organização Mundial de Saúde elaborou uma declaração sobre as taxas mundiais de cesárea baseadas em duas pesquisas realizadas entre 2012 a 2018: a primeira, uma revisão sistemática buscando determinar uma taxa ideal de cesáreas nos países do mundo; a segunda, analisando os dados mais recentes dos países sobre o assunto.

Cesáreas no mundo: quando ela salva vidas?

Na declaração da OMS sobre as taxas de cesáreas no mundo, os estudos determinaram que taxas acima de 10% não estão associadas a redução de mortalidade materna e neonatal, muito pelo contrário, as evidências apontam que cesáreas em bebês e mães saudáveis acarretam riscos a longo prazo, afetando a saúde da mulher e da criança, podendo comprometer futuras gerações. Segundo dados da Fiocruz, a cesariana reduz as taxas de óbitos quando há uma real indicação médica, um procedimento que salva vidas quando há necessidade, mas que pode aumentar o risco de óbito na infância quando feita sem indicação.

Mas o que acontece com nossas mulheres que não conseguem parir um bebê?

Aqui no Brasil, principalmente em grandes estados, é comum relatos de mulheres que tiveram uma ou mais cesarianas por justificativas que não se enquadram em risco real para a vida dela ou do bebê. Diversos mitos são propagados para justificar uma cesárea, que na real avaliação do caso é mais uma indicação de comodidade médica do que de saúde.

Segundo uma matéria do Estadão, consultando os dados do Sinasc (Sistema de Informações de Nascidos Vivos do Ministério da Saúde) pela PRIMEIRA vez no Brasil batemos o recorde de cirurgias cesarianas, ultrapassando 57,2% dos nascimentos, ou seja, contradizendo tudo o que a OMS recomenda.

Durante a pandemia, muitos hospitais reduziram a entrada de acompanhantes, cerceando o direito das mulheres em ter a doula e seu companheiro durante seu parto. Hoje, nas maternidades do sistema público da cidade de São Paulo, a mulher precisa escolher se entra com a doula ou com o marido no momento do parto. Essa pessoa escolhida é a única pessoa de fora que terá acesso à mulher e ao bebê durante toda a internação, até o momento da alta.

Já é evidenciado por estudos que o apoio contínuo durante o parto reduz intervenções, reduz o tempo de trabalho de parto e consequentemente, as taxas de cesárea.

Violação dos direitos

Contrariando as recomendações da Organização Mundial de Saúde sobre a garantia do acompanhante em sala de parto, muitas maternidades restringiram até a entrada do acompanhante de livre escolha da mulher durante a pandemia, violando a garantia desse direito.

O Tribunal de Justiça de São Paulo recebeu entre Agosto de 2020 e Maio de 2021 diversas denúncias de casos de mulheres que perderam a garantia de ter um acompanhante em sala de parto, mas ainda é pouco perto da realidade. Muitas mulheres não estão dispostas a entrar na justiça com esse tipo de pedido ou não têm conhecimento de que podem acessar a justiça pela Defensoria Pública, segundo a matéria do Jota, citada aqui nas referências.

Na balança de prós e contras, é até cabível esse tipo de estratégia quando falamos dos riscos de uma pandemia, porém muitas instituições se aproveitaram desse cenário para limitar o acesso das doulas como parte da equipe da mulher. Sozinhas e sem apoio, as mulheres ficam completamente vulneráveis a procedimentos desnecessários, aumentando assim os riscos de uma cesárea.

Se você teve seu direito violado na pandemia, acesse a página da Defensoria Pública e denuncie! Somente com esse tipo de ação, podemos resguardar nossos direitos e de todas as mulheres gestantes do nosso círculo.

Se você está gestando, se informe sobre seus direitos e verifique se estão garantidos pela instituição escolhida por você antes de seu bebê nascer.

Defensoria Pública:

Rua Boa Vista, 150 – Mezanino
Centro, São Paulo, SP
CEP 01014-000
Telefone: (11) 3107-5197
WhatsApp: (11) 94221-0280
e-mail: nucleo.mulheres@defensoria.sp.def.br

Referências:

Apoio contínuo na assistência ao parto para redução das cirurgias cesarianas: síntese de evidências para políticas, Ciência e Saúde Coletiva

Cesariana sem indicação pode aumentar óbito na infância, Portal Fiocruz

Declaração da OMS sobre as taxas de cesárea, Organização Mundial da Saúde

Índice de cesáreas voltam a subir no Brasil e bate recorde durante a pandemia, entenda por quê

Promoção e defesa dos direitos das mulheres, Defensoria pública do estado de são paulo

Violação do direito ao acompanhante da gestante no parto aumenta na pandemia, JOTA

Volta a crescer o número de cesáreas no Brasil, Jornal de Brasília

 

Desejo uma boa hora a você.
Beijo da doula!

Lili Szili – Doula de parto, pós-parto e consultora de aleitamento materno.

Lili Szili é formada na área da educação, casada com o Joh, mãe de três filhas, duas adolescentes gêmeas de 18 anos e uma menina-sapeca de 12 anos. O nascimento das gêmeas foi um marco para que a maternagem pudesse ser olhada de uma forma mais acolhedora, e a partir da chegada de suas duas primeiras filhas começou um caminho diferente. Com a gravidez da caçula, em 2008, iniciou-se um processo ativo em busca de um atendimento mais digno e consciente, o que levou Lili ao ativismo em prol do parto humanizado. Tornou-se doula em 2011 e desde então tem o privilégio de acompanhar as famílias e seus processos de expansão. Já são 11 anos de doulagem e uma busca incessante em tornar o parto com respeito um direito, não um privilégio. Lili também é facilitadora em aleitamento materno, instrutora de shantala e doula pós-parto. Ela ajuda e orienta mulheres e bebês nesse processo tão visceral, solitário e cultural que é o ato de maternar. Lili atende na Casa Pulsar e faz parte do time de coordenadoras no grupo de apoio ao aleitamento materno Matrice – ação de apoio ao aleitamento materno. Para falar com ela, envie e-mail para lilidoulasp@gmail.com ou se conecte pelas redes sociais @lilidoulasp e @vemparir

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