Com o início do ano, muitas crianças e bebês irão para escolas. Aqui, vou usar o termo escola, mas temos vários outros espaços, como berçários, creches e centros de educação. Para quem chegará pela primeira vez ou para aqueles que estavam de férias, a escola significa um mundo de novidades e de necessidades de adaptações. Dentre tantas informações, a alimentação é um elemento importante para que as famílias fiquem atentas pois, afinal, a criança passará várias horas nesse ambiente e alimentar-se é um dos pilares para garantir seu bem-estar.
Para além da nutrição, comer na escola tem um papel pedagógico que percorre dimensões socioculturais, dado que a criança começa a perceber a existência de outros exemplos, além do familiar, mas também envolve o desenvolvimento de habilidades motoras e cognitivas, como o uso de talheres, diversidade dos alimentos e suas origens, descoberta sobre cores, formas, texturas…
Certa da sua importância, é fundamental que a família, na possibilidade de escolha da escola, informe-se sobre as características da alimentação. Mesmo quando escolher não é uma opção (realidade de muitas mães e pais), ter informações e acompanhar o que acontece em relação à alimentação precisa ser tarefa constante e, no início, digo que diária.
Onde fica a amamentação?
Aqui, não posso deixar de falar da amamentação. Entrar na escola não deve significar a necessidade de desmame da criança. Assim, garantir que o espaço escolar seja acolhedor para bebês em aleitamento materno é o primeiro passo para a realização da alimentação adequada. As estratégias para isso são diversas e envolvem desde a entrada rotineira da mãe no ambiente escolar para amamentar seu filho, a recepção, armazenamento e oferta de leite ordenhado e o não uso de bicos artificiais. Também é importante certificar-se de que a equipe esteja preparada para o manuseio adequado do leite materno e tenha habilidade para oferecê-lo à criança de forma adequada.
Quando falamos de instituições públicas, no município de São Paulo, por exemplo, há um programa chamado “CEI Amigo do Peito” que protege a amamentação. Em outros municípios, vale identificar a existência de políticas ou programas sobre práticas de amamentação na área da educação para dialogar com a escola. Já em instituições privadas, apesar destas não terem as mesmas regras das públicas, muitas já reconhecem a importância de estarem aptas a garantir a realização do aleitamento materno como um diferencial aos seus clientes.
Receber o leite da sua mãe é um ponto que favorece a permanência da criança no ambiente escolar, mas a oferta de tantos outros alimentos também precisa requer atenção. Caso seja a escola que ofereça os alimentos, é obrigatório que haja um cardápio planejado por nutricionista e este precisa estar acessível às famílias. Ali, todos teremos a informação da variedade dos alimentos oferecidos,
da eventual existência de produtos ultraprocessados, da frequência da oferta de açúcar dentre tantas outras informações. E o que fazer com isso? Isso pode ser um dos pontos que fará a família escolher essa local para a permanência da criança! Mas também é um elemento para diálogos, reuniões e discussões entre as famílias e a escola a fim de buscar compreender a estrutura da alimentação oferecida mas, também, sinalizar melhoras que poderão ser realizadas. Aqui, também trago a existência dos Conselhos de Alimentação Escolar (CAE), que são municipais e estaduais e contam com a participação de representantes das famílias de crianças matriculadas nas instituições públicas.
Você sabe o que são os Conselhos de Alimentação Escolar (CAE)?
A função dos Conselhos é de zelar pela concretização da alimentação escolar de qualidade. E quando a alimentação vem de casa? Isso pode deixar muitas famílias mais tranquilas, mas outros cuidados são necessários. Como estamos falando de um ambiente coletivo e de aprendizado, ao comerem juntas (mas alimentos diferentes), as crianças também se influenciam e, conforme crescem, tendem a buscar a partilha. Por isso, nesses casos, é importante conhecer como a escola norteia a qualidade das refeições que serão enviadas porque provavelmente terá impacto se uma criança leva fruta enquanto a maioria come biscoitos e guloseimas.
Muito se fala da qualidade do que é oferecido, mas também destaco a necessidade de se conhecer sobre o ambiente da alimentação, ou seja, o local onde as crianças comem, como elas se servem ou são servidas, quais adultos participam desse momento, quanto tempo têm para comer e tantas outras informações que são tão importantes quanto aquilo que estará no prato. Saiba que o momento da refeição pode ser o maior desencadeador do fato da criança comer ou rejeitar os alimentos.
Sempre defendo que escola e família precisam ser parceiras e, quanto à alimentação, isso não muda.
Em toda parceria, discurso e ações alinhados são fundamentais. A família deve levar informações sobre a criança que podem ajudar a escola a acolhê-la melhor no momento das refeições. Ao mesmo tempo, a família precisa receber informações do que acontece, para além da tradicional informação quantitativa relacionada ao consumo (o famoso “comeu tudo”). Assim, a escola poderá ser uma continuidade do investimento que a família faz em casa e, claro, o contrário também acontecerá!
Viviane Laudelino Vieira
Doutora em Ciências – Mestre em Saúde Pública