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O Dia Internacional da Mulher é comemorado anualmente no dia 8 de Março e representa um dia para marcar as lutas das mulheres por direitos humanos e políticos em nossa sociedade. Historicamente, é um dia onde se destacam uma série de eventos e posicionamentos feministas, seja para relembrar a história das mulheres, que vem, aos nossos olhos, mais uma vez sendo recontada, seja para pontuar toda a luta que ainda é necessária e sobrepujar reações desmedidas que envolvam eventos com flores e romantização.

Pensando nesse propósito, a Editora Timo separou cinco direitos das mulheres que a escritora e jornalista Esther Vivas Esteves aborda no livro Mamãe Desobediente, publicado pela Editora Timo no Brasil.

 

Controle dos direitos reprodutivos

Ao longo de todo o livro Mamãe Desobediente, a autora descreve como espaços naturais e coletivos femininos foram usurpados e sofreram manobras de poder para se tornarem espaços masculinos, esterilizados e controlados pela indústria. Seja para nascer vivo ou nascer morto, o corpo da mulher a ela não pertence. E Esther Vivas trabalha essa dura realidade por meio do ciclo reprodutivo feminino, voltando seu olhar para a maternidade e tecendo paralelos com o feminismo focado nas mães.

 

Roubaram-nos o parto

Esse é o título do capítulo que aborda como os direitos de nascer e de parir foram descentralizados do papel feminino, como se construiu e ainda se desenvolve a indústria da cesárea (maquiada muitas vezes por um discurso feminista liberalista da liberdade de nascer) e como o senso comum tenta nos convencer que houve uma série de avanços na área, quando, em realidade, estamos mais cerceadas do que nunca. Destaque para o trecho:


“​​Na Antiguidade Clássica, as parteiras contavam com um status e um reconhecimento social elevados, por serem as únicas autorizadas a realizar um procedimento ginecológico e, consequentemente, a ter o controle exclusivo da gravidez e do parto. Ao longo da Idade Média, as coisas começaram a mudar, e na medida em que a Igreja estendeu sua influência no campo da saúde, num contexto de disputa pelo controle dela, o descrédito das parteiras foi um objetivo em si. Elas não eram consideradas profissionais – apesar dos conhecimentos que tinham sobre plantas medicinais e vários remédios –, porque muitas eram praticamente analfabetas. Seu trabalho quase nunca era remunerado, sobretudo no meio rural, e pensava-se que por sua experiência tinham o dever de atender as mulheres de sua comunidade sem esperar nada em troca. A maioria delas tinha uma origem social modesta, exceto as que atendiam a nobreza. A caça às bruxas, entre os séculos XV e XVII, também perseguiu as parteiras. Muitas foram queimadas na fogueira, num período em que o conhecimento era vetado às mulheres. O saber das parteiras era percebido como uma ameaça. Buscava-se expulsá-las da prática da saúde e acabar com o peso tão importante que elas tinham sobre a reprodução da vida,4 mas a decência e o pudor da época dificultavam a realização de procedimentos ginecológicos por parte dos homens, o que permitiu a elas, apesar da perseguição, manter seu trabalho.”

 

Violência obstétrica

Sutil, velada ou escancarada, é uma violência com recorte de sexo biológico e que afeta mulheres e meninas em todo o mundo. Como os corpos femininos estão em posse de um colegiado formado, criado e constituído de homens, o resultado é um sem fim de violências. Destaque para o trecho: 

 

“Os maus-tratos de determinadas práticas médicas contra as mulheres durante a gravidez, o parto e o pós-parto tem nome: violência obstétrica. Trata-se de um conjunto de atitudes e procedimentos executados pela equipe de saúde que sujeitam e menosprezam a mulher, com consequências físicas e psicológicas para a saúde dela e do recém-nascido. A gravidez, o parto e o pós-parto são considerados uma patologia, e a grávida uma doente. As capacidades maternas, que desde sempre possibilitaram o nascimento, ficam desprovidas de seu significado, e dar à luz transforma-se num assunto médico, onde as mulheres não contam. As mães são relegadas ao papel de espectadoras ou recipientes de um bebê, num sistema médico hierárquico e patriarcal. Mesmo assim, esses procedimentos acabam sendo justificados pelo nosso bem e do nosso bebê, e são socialmente aceitos, até mesmo pelas próprias mulheres que os padecem e por seus parentes”.

 

Aborto com respeito

Nessa parte do livro, Esther tece uma crítica contundente ao feminismo que, na busca (justificada) por questionar a maternidade compulsória, tornou desumanizado o discurso em torno de perder um filho. Com sabedoria, não responsabiliza o movimento, consciente de que esse é um discurso muito maior, em torno da ética da vida, onde bebês não são considerados sujeitos e a perda gestacional ocupa um lugar invisível na sociedade – levantando até a questão de que em muitas culturas sequer do corpo do bebê a mãe pode se despedir. Destaque para o trecho: 

“O aborto, contudo, ainda é um tema tabu. Ocultá-lo impede que se reconheça o luto e se consiga o apoio e o suporte necessários, seja de familiares, amigos ou profissionais.7 Trata-se em geral de uma dor que fica inibida, proibida, negada… devido às próprias hierarquias da perda e às regras que estabelecem quais lutos são aceitáveis e quais não são, a vida que pode ser chorada e a que não pode, ocorrendo uma “privação de direitos” nos casos de mães e pais de bebês não nascidos”.

O direito ao aborto

O que já deveria ser legalizado em todos os países do mundo e não é, o tema tabu que desperta discussões em todas as áreas de conhecimento, o direito a interromper a gravidez. Destaque para o trecho:


“Um aborto involuntário ou por causas médicas e um aborto escolhido não deveriam ser tratados como dois fatos opostos, mas como experiências intrínsecas da sexualidade feminina que, muito frequentemente, ficam invisibilizadas e não são reconhecidas, justamente por estarem relacionadas com nossos corpos. Trata-se de duas faces de uma mesma moeda, um futuro que se deseja e um futuro que não se deseja.20 A imprescindível defesa do direito de nós, mulheres, a pôr fim a nossa própria gravidez de maneira segura e sem estigma não deveria estar em desacordo com reconhecer a morte e o luto gestacional e perinatal”.

 

Aleitamento proibido

Ao entrar no tema da amamentação, Esther nos abre os olhos para falar sobre como a maternidade foi medicalizada e como nós mesmas, mulheres, também entregamos na mão dos médicos partes dos nossos ciclos e culturas íntimas, coletivas de mulheres.
Destaque para o trecho:

Até o final do século XIX, o aleitamento nas mãos das mulheres, fossem amas de leite ou mães, tinha sido a única fonte de alimentação das crianças, mas, a partir daí, as coisas começaram a mudar nos países industrializados. A perda da cultura da amamentação deveu-se principalmente a três fatores. Em primeiro lugar, os avanços científicos alcançados na modificação do leite de vaca que o tornaram adequado e digerível para bebês. Até então, a mortalidade das crianças alimentadas com leite diferente do das mulheres era muito alta, em torno de 90% no primeiro ano de vida. Em segundo lugar, as mudanças nas sociedades industriais, com a incorporação das mulheres ao trabalho assalariado, os avanços científicos e técnicos que ditavam que o leite artificial era melhor que o natural, as primeiras correntes feministas e os interesses econômicos da indústria. E, finalmente, a intervenção da classe médica no parto e na criação defendendo o uso da mamadeira.16 Nós, mulheres, acabamos comprando o discurso de que a mamadeira nos libertaria e nos permitiria estar totalmente disponíveis para o mercado de trabalho. Não dar o peito tornou-se um emblema da modernidade e do progresso.

 

Já leu Mamãe Desobediente? Aproveite para, neste 8M, compartilhar conteúdos de qualidade (sim, com o nosso) e que falem de temas centrais sobre as mulheres, combate contra a violência contra a mulher, novos pontos de vista sem apagamento de sexo, de história ou narrativa social. Menos dircursos impostos. Mais equanimidade.

 

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