Março, mês das Mulheres, Oito de Março, o dia da mulher, o dia em que todo mundo lembra que somos mulheres e nos parabeniza com mensagens bonitas, flores e chocolates. Esse dia, para mim, é bem gostoso, mas nem sempre foi assim.
Dia Internacional da Mulher: aos 20 anos
Quando comecei a atuar em comunicação lembro de me sentir uma princesa nesse dia. Aliás, nos sentimos princesas com bastante frequência aos vinte anos, mas como antes disso eu só atuava no meio da educação esse dia passava meio em branco. Mulheres não costumavam enaltecer esse dia tanto quanto os homens. Ali, na política, num cenário predominantemente masculino, esse dia começou a ter cara de aniversário. Mesmo.
Dia Internacional da Mulher: no trabalho
Depois vieram outras situações diferentes. Como continuei atuando em meios bem masculinos, como o mercado de food service e a própria universidade (vocês já conhecem essa história bem…) continuei tendo dias da mulher com uma série de manifestações de carinho. De muitos homens e algumas mulheres, mas fui percebendo que esse contingente ia aumentando.
Quando comecei a atuar com nutricionistas então: Ah! O dia da mulher era colorido e alegre, ali entendi ainda mais a beleza das mulheres em torno de suas causas, do cuidado com o mundo. Naquele momento da vida a união em torno de tudo que o feminino representa foi marcante, e comecei a ver uma paridade entre parabenizações masculinas e femininas. Coisa mais linda.
Dia Internacional da Mulher: como mãe
Aí veio a maternidade. E aí eu peguei uma birra do #8M que eu nem sei explicar. Por que eu tinha vontade de jogar as flores na cara das pessoas nesse dia? Porque eu achava um absurdo a invisibilidade da jornada dupla/tripla/quádrupla! A verdade é que a maternidade tem sua luz, mas tem suas sombras também, e aprendemos com as duas coisas.
Era raiva, misturada com dor. Era um incômodo que eu nem sabia explicar mas estava bem ali. Não dava pra ignorar.
Uma das sombras mais difíceis de olhar na maternidade é essa, o de como ser mulher fora dos holofotes é difícil e pouco reconhecido, como muitas vezes fazemos mais que o dobro pelo mesmo reconhecimento e, eventualmente, sem nem perceberem o que estamos fazendo, como se ser mãe e estar de férias fossem sinônimos. E como ter filhos é diferente para homens e mulheres, além do tamanho do impacto que isso tem nas carreiras femininas. Os homens não precisam se perguntar se agora trabalham ou cuidam dos filhos, essa pergunta se torna nosso pensamento em looping a partir do momento que parimos. Ou antes.
Dia Internacional da Mulher: entrei na onda da guerreira
Foi então que eu entrei na onda da guerreira. Dia da mulher, bora compartilhar imagem da mulher maravilha, de como é incrível ser multitarefas, de coo só tomamos porrada da sociedade, de como as mulheres tem 365 dias delas e por aí vai. Quando estamos no modo guerreira a gente já tá com o livro sobre o feminismo na mão prontinha pra metralhar quem vier com chocolates. Só que nessas mesmo nós, que entendemos e estudamos o que é o feminismo, corremos o risco de nem interpretar o livro direito. A opressão de sentir que não estamos sendo realmente vistas deixa a gente mais arredia, mais pronta pra guerra e mais… masculina.
Mês das mulheres e o 8M: o caminho do meio
Levei um tempo pra entender que tinha um caminho do meio. A princesa que é protegida e cuidada precisa dar espaço, em um determinado momento da vida adulta, para a mulher que cuida e ampara. Essa é a natureza do feminino, acolher. Mas ela ainda vive em algum lugar dentro de nós, ela só precisa crescer, se tornar rainha. Aprender a se defender sem desequilibrar seu masculino. Entender nosso poder é essencial, nos tornarmos guerreiras sempre prontas para atacar ou defender é absolutamente facultativo.
Não estou aqui dizendo que quem se sente guerreira está errada! Nada disso, só descobri que pra mim o caminho do meio funcionava melhor. E esse texto é um convite para você refletir sobre isso também.
Somos, de certa forma, natas na arte da guerra por termos nascido mulheres em uma sociedade patriarcal e machista. Isso é fato. Tem vezes que só ser mulher já é um ato de rebeldia. Mas me parece que existe um lugar de onde esse feminino forte e poderoso pode se fazer ver e cobrar seus direitos de maneira mais gentil.
Antes de escolher as imagens com as quais vai representar seu orgulho por essas datas ao longo de Março e principalmente no 8M – e temos que falar disso, e comemorar sim, porque ser mulher é algo absolutamente incrível e perfeito – pense um pouco sobre essas representações. A força feminina é imensurável, se você se reconhece como uma princesa, como uma guerreira, ou qualquer outro arquétipo manda bala, só não seja você mesma a criar suas prisões, certo?
Mulher é poesia, é alegria, é música. Ser mulher é, por si só, de uma beleza sem fim. Aceite de coração aberto todos os parabéns. Acredite, uma parte do que parece hipocrisia é a nossa dor (válida e justa) refletida, não é real. Permita-se ser mulher para além de qualquer rótulo. Continue escolhendo suas batalhas, fazemos isso diariamente, mas se permita também o descanso e o reconhecimento, ainda que não venha sempre exatamente como espera. As pessoas só podem dar o que são lembra?
Celebre. Celebre-se. O mês é nosso. A revolução é nossa e pode vir a partir do amor e do diálogo. O futuro é feminino.