O bebê que não quer mais ficar sentado durante as refeições

Depois de alguns meses de introdução alimentar, não é rara a reclamação de que o bebê não quer mais ficar sentado durante as refeições. Geralmente, isso acontece quando ele começa a andar. Ai é um tal de pai e mãe ficarem correndo atrás da criança com o prato nas mãos na tentativa de que esse bebê coma alguma coisa! Afinal, o que fazer?

Primeiro, tente se colocar no lugar do bebê

Imagine você sentado preso a uma altura em que você não tem condições para sair sozinho. Leve em conta outro ponto importante: você acabou de aprender a fazer algo bastante complexo e que te dá uma independência que até então não tinha, que é andar. Todo bebê, quando adquire uma nova habilidade, quer explorá-la quase à exaustão. E andar é uma das mais importantes
conquistas para essa fase. E um último aspecto a ser somado: comer deixou de ser uma novidade e você já se resolve relativamente bem com muitos alimentos.

Todo esse contexto faz com que o bebê não se anime muito para ficar contido em uma cadeira. Ele passa a criar dificuldades para se sentar ou, mais frequentemente, insiste muito para sair. A refeição vira um caos!

O cinto da cadeirinha, nos primeiros meses, é muito importante pela questão de segurança e o bebê, inclusive, acaba gostando dele porque o ajuda a permanecer em uma posição na qual ele ainda não tem completo domínio. Aos poucos, você pode abrir mão desse cinto, ainda mais porque um bebê nunca deve ser deixado sozinho no momento da refeição.

E se isso não for o suficiente?

Talvez seja o momento de providenciar uma mesa baixa para que o seu filho tenha como alternativa no momento da refeição.
Talvez seja o momento para que A FAMÍLIA recrie as formas de se alimentar e, inclusive, faça algumas refeições em superfícies mais baixas. Isso não significa que todos devem abdicar da mesa tradicional das refeições em função do bebê, mas ter uma flexibilização pode ser mais prazeroso para todos. Você pode, também, dar opções ao seu filho: ele pode escolher entre sentar à mesa com vocês ou comer por perto em uma mesa mais baixa.

E, se mesmo assim, o bebê não comer?

Famílias me perguntam se tem problema levar a comida até ele ou se seria adequado oferecer a refeição em outra hora.

Ficar atrás da criança com a comida pode deixar o adulto mais tranquilo, mas, no fundo, mas estamos, na verdade, incentivando que a criança não esteja mais tão atenta aos seus sinais de fome. Ela vai comendo distraída, sem perceber o que comeu porque sempre a comida surge à sua frente! A família resolve momentaneamente uma questão nutricional (que pode ser tratada de outras formas), mas pode criar um problema maior para o futuro. Já a ideia de insistir que coma mais tarde ou de deixar o prato disponível por mais tempo dificulta o aprendizado da criança sobre o que é uma refeição e como é rotina da família. Se ela recebe a mensagem de que um almoço pode durar mais de uma hora ou se esse almoço reaparece mais tarde, como uma mágica, ela compreende que pode continuar sua exploração do ambiente e comer em outros horários. Porém, essa criança já começa a ter condições de compreender que, se ela opta por perambular pela sala em vez de comer, a comida esfria e a refeição acaba, ou seja, ela passa a perceber as consequências das suas atitudes. Ela perdeu o almoço.

Isso não tem nada a ver com punição!

Se essa criança mostra que está com fome logo em seguida, não há problema nenhum em lhe oferecer comida! Mas, comunicando-se adequadamente com ela, vamos mostrando como que a sua família funciona e ela também vai aprendendo mais sobre o seu corpo e sobre comportamento. Com respeito e com carinho, ela tem condições de aprender isso e, ao mesmo tempo, aproveitar essa fase tão gostosa de conquista da independência!

 

Viviane Laudelino Vieira
Doutora em Ciências – Mestre em Saúde Pública
Nutricionista do Centro de Referência em Alimentação e Nutrição (CRNutri) – CSE Geraldo de Paula Souza – FSP/USP

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