SÃO TEMPOS de incerteza, que nunca vivemos antes, que não sabemos o que virá e nem quando vai acabar. A única certeza é o hoje, o que fazemos agora, em casa e em família, isolados dos olhos restantes. É nessa conjuntura, meu filho, que eu deixo uma mensagem de esperança.
Meu filho, nada é por acaso. Se estamos juntos nesse momento difícil, é porque temos mais sentido juntos. E vá logo aprendendo, que a vida é difícil, sim. Às vezes, nos exige mais do que temos, e, então, começam nossas lutas. Eu só quero, meu filho, que você lute sem desistir. Não é lutar sem cair, sem chorar, sem se abater.
Na verdade, meu filho, a gente pode, e até deve, se sentir exausto, pois é nesse momento que nos descobrimos fortes. O que a gente não pode é deixar de acreditar que nosso caminho é essa luta.
A quarentena é dolorosa, sim, pois restringe nossa rotina, nossos passeios, nossa família, nossas brincadeiras lá fora, por outro lado, nos conecta ainda mais um ao outro, misturando a nossa essência e deixando ela cheia de significado. A quarentena é indefinida, e isto a torna tão temerosa, pois não somos acostumados a isto, meu filho. Pode parecer patético, uma grande ironia, afinal controlamos tão pouco da nossa vida, e agora queremos culpar a quarentena pelo nosso triste destino. O problema, meu filho, é que agora não temos mais o controle do imediato, e isto nos reprime e tanto nos assusta.
Para vencer esta batalha, meu filho, precisamos enxergar mais longe. Precisamos inventar nosso futuro na nossa imaginação, acreditar nas coisas mais belas e revisitá-las diariamente. Com este exercício, meu filho, vamos nos trabalhando para o amanhã, que pode demorar anos, mas que chegará. E nesse nosso caminho, meu filho, a gente constrói o projeto mais significativo de todos, a nossa vida.
Eu te desejo, meu filho, que sempre que estiver com medo, você se lembre dessa quarentena, que foi longa e entediante, que as brincadeiras se repetiam, que a casa ficou pequena, que sentíamos saudades dos seus avós, e não se esqueça também das músicas que inventamos, dos banhos intermináveis de piscininha, da conexão construída em família, porque foram nesses pequenos eventos que o amor se multiplicava a cada minuto, por que isso foi, sem a menor dúvida, o melhor de todos os ensinamentos. E nós vencemos.
Hoje posso te afirmar com certeza que a nossa vida pode até ser vivida lá fora, mas foi construída aqui dentro, inclusive nos tempos da quarentena. [L.C.]
Relato de LÍVIA CASTRO, 34 anos, mãe do Paulo, mora em Fortaleza/CE e é contadora.
Publicado em Mães na Quarentena: um livro feito por mães, relatando as experiências de mães durante o isolamento social do Covid-19 em 2020. São 40 relatos com muita humanidade, muita maternidade e perspectivas que trazem à tona muita identificação entre mulheres.