
O Dia dos Pais é comemorado oficialmente no Brasil desde 1953. A comemoração, importada dos EUA, veio com o duplo propósito de estimular o comércio e promover homenagens aos pais. Claro, muito mais para promover o comércio.
Dia dos Pais: comemorar para quê?
Entretanto, nos faz pensar no objetivo menos importante. Homenagear os pais naquela época? Homenageá-los por quê? É claro, toda a regra tem seus milhares de exceções, aliás, há regras que conseguem ter mais casos de exceções do que aqueles que se enquadrem em seus requisitos absurdos.
Houve pais que foram o alicerce de seus filhos e parceiras, que transmitiram valores sólidos de amor, compaixão e empatia; entretanto, temos que concordar que à época do início dessa comemoração, no geral, não havia muito o que comemorar acerca da postura dos tão badalados “pais”.
Vejamos um trecho do livro “Papai, meu amigo” de Leo Buscaglia (edição de 1989):
“Há várias décadas, quando crescia, era mais fácil definir um pai. Era a parte masculina do casal – em geral, quem sustentava a casa, o disciplinador final, quem tomava as decisões, o chefe simbólico da família. Quando o carro enguiçava, ele consertava. Quando a tampa de um vidro se recusava teimosamente a reabrir, recorria-se a ele. Caso se ouvisse um barulho estranho no corredor, era ele quem o investigava. E principalmente se você tinha estado impossível naquele dia, era com papai que o ameaçavam: – Espere só até o seu pai chegar em casa.
Ele ficava fora grande parte do tempo num lugar misterioso chamado trabalho, que o afastava de casa durante o dia e muitas vezes o preocupava a noite. Naquela época, em geral, aceitava-se que os pais mantivessem os filhos a uma certa distância emocional. As crianças que cresciam encaravam a mãe como as pessoas que as criavam, a parte do pais era sustentar a casa e pagar o aluguel. ” (págs. 19 e 20)
Aff… que bom que tudo isso caminha na direção da mudança ou deveria caminhar (e com força), que as mulheres sabiamente aprenderam a dar a volta nessa suposta “regra social” de funcionamento dos papéis dentro das famílias, que criaram uma sinergia interna (sororidade) para torná-las mais fortes frente a um sistema patriarcal opressor que já estava imposto antes mesmo de nascerem, que os homens estão aprendendo que afeto e cuidado não diminuem sua masculinidade e que as pessoas estão percebendo que podem ser quem querer ser e não personagens para papéis sociais preestabelecidos em suas vidas – e aí vem o que temos que comemorar hoje.
Outro dia estava conversando com um amigo que acabou de receber seu primeiro filho e ele me contava sobre o desenvolvimento da bebê em detalhes, sabia absolutamente tudo sobre fraldas, amamentação, movimentos corporais, calendário de vacinas, já preocupa-se com a forma como irá lidar com os desafios que surgirão na infância e adolescência. Aquela conversa me abriu os olhos para uma mudança em curso, timidamente: nós, pais, estamos descobrindo a que viemos e não tenho dúvida e nem medo de afirmar que o dia que chegarmos lá teremos uma sociedade menos preconceituosa, mais amorosa e gentil. O dia que perdermos nossas inseguranças e medos, que deixarmos o afeto fluir, que formos referências melhores para nossas filhas e filhos, é impossível que a sociedade como um todo não amadureça.
O caminho é longo, mas já estamos nele, por isso temos muito o que comemorar. VIVA A NOSSA MUDANÇA! Feliz Dia dos Pais para você também!
Ah, cuidado, vejo pais tão ávidos em serem bons, maravilhosos e perfeitos que criam um universo de ficção para os filhos, se cobram demais e por isso o exercício da paternidade perde a leveza, ganha um ar de fardo. Permita-se errar, meu amigo, você também é humano, só procure evitar os erros daqueles que te antecederam. O amor será o laço mais forte entre você e seu filho (ou filha, ou filhe). Ame-o e saiba que errar faz parte do processo, ele também precisará aprender com os seus erros, não tire essa oportunidade dele!
Robson Celestino, autor do livro Quando Nasce um Pai, lançamento na Editora Timo.
Um livro sobre afetos, histórias, questionamentos. E um olhar dedicado para falar sobre essa que é a figura que representa um mundo: o pai.