Era um dia de férias e nada de aparentemente anormal tinha acontecido. Mas meu filho mais velho se acabava de chorar na cama, em plena manhã, no meio da viagem de férias. Era uma tristeza que vinha do fundo e nem ele sabia bem explicar. Tentei oferecer ajuda, barganhar doces, passeios, presentes… nada. Por fim, aceitei que todos nós temos os nossos dias de glória e de luto, e que o melhor a fazer seria me dispor a estar ao lado para um abraço ou colo amoroso.
Como dói para um pai ou para uma mãe ver um filho triste, sofrendo. E como essa dor facilmente no leva para o caminho da compensação: doces, presentes, passeios. Queremos que aquele momento pare logo. Queremos que eles não sintam dor, nem raiva, nem tristeza. Queremos que eles vivam eternamente no “mundo das fadas”, o que obviamente não existe. A alegria eterna não existe. Acho que entender e incorporar essa verdade é um dos desafios da maternidade/paternidade. Eles vão sofrer e o melhor que podemos fazer é estar ao lado deles para oferecer colo.
E quando somos nós os causadores da dor?
Quando negamos o 27ª brinquedo novo. Quanto temos que ir embora da festinha. Quando não damos o picolé antes do almoço ou desligamos a televisão na hora de dormir. Quando você diz “não” (mesmo podendo dizer sim), como você se sente perante a tristeza, raiva e frustração do seu filho? Como você segura o rojão?
É fácil acabar com a frustração usando barganhas, ainda mais envolvendo dinheiro. Mas aí, será que não estaríamos ensinando a usar o dinheiro para camuflar emoções que fazem parte da vida?
O dinheiro é uma ferramenta feita para nos ajudar a prosperar e a alcançar objetivos. Porém, não quero cair aqui no senso comum de lhe dizer para só usar dinheiro em coisas úteis. Isso é utopia. Comprar um sorvetinho quando estamos meio deprimidos não vai matar ninguém. O mais importante é entender o que está por trás dessa ação de comprar aquele sorvetinho fora de hora. É fazer isso com consciência e, assim, com controle.
Que a fugaz alegria trazida pelo dinheiro seja apenas uma abertura de porta para o início de uma conversa profunda sobre sentimentos com os nossos filhos. Mas que o dinheiro não seja o fim por si só. “Um doce, uma roupa nova e tudo passa”.
Não, não passa.
Uma vez meu pai me disse: sentir faz parte do viver.
Sentir, em toda a sua amplitude. Coisas boas e coisas ruim. Ou mesmo sentir nada.
Que saibamos conduzir os nossos filhos (e a nós mesmos) nesse infinito universo do sentir, podendo até usar o dinheiro como ferramenta de compensação em alguns momentos (ninguém é de ferro), mas não como o remédio que curará o que nos incomoda.
Deixa vir as lágrimas, deixa vir o furacão… no final, a única coisa que preenche esse vazio que algumas vezes sentimos por dentro é a certeza de que somos amados e que temos com quem contar.
Isso nenhuma moeda do mundo pode comprar.