Precisamos conversar sobre o choro do bebê

Em Presente para a Vida Toda, você lerá “Nós, adultos, também choramos, quando temos motivos. Como as crianças. Elas não choram porque sim. Simplesmente, seus motivos são diferentes, e muitas vezes não os conhecemos. Imagine que é você quem está chorando. Uma pessoa querida sofreu um grave acidente e você está em casa sozinha chorando. Não é triste estar sofrendo e não ter ninguém para lhe dar um apoio ou conselho? Agora imagine que você não está sozinha em casa. Seu marido está junto, lendo. Você está chorando e ele sequer tira os olhos do livro. Ou grita: “Cale-se, estou tentando ler”. Isso não é ainda pior que chorar sozinha? Além da dor que você já sofria, agora se sente desprezada, humilhada, sente que seu marido não a ama mais. Quando uma pessoa amada chora, nós lhe damos atenção”.

Por que nos sentimos impelidos a dar atenção a alguém que amamos que está chorando quando esse é adulto? Por que nos sentimos impelidos a não dar colo quando esse é um bebê? Por que nos sentimos impelidos a nomear como “manha” ou “birra” quando é criança?

O choro dos bebês fala sobre os bebês, sobre algo que eles estão sentindo. Todos por aqui nos lembramos bem que bebês não nascem sabendo falar e, por isso, que a comunicação se dá por meio do choro. É através desse som, que as mães e os pais (presentes) irão ouvir do chuveiro à casinha de sapê que será possível identificar as necessidades daquele pequeno ser humano.

É preciso, claro, estar atento aos sinais e às necessidade do bebê e da criança que se comunica com o choro. Selecionamos algumas reflexões do Dr. Carlos González em Um Presente para a Vida Toda.

CHORO E PEITO
“E se ele na verdade não estava com fome, se estava chorando por outra coisa, não lhe fará mal mamar de novo? É claro que não. Primeiro, o bebê não pede o peito apenas por fome, mas também por outros motivos. Segundo, se ele não quiser mamar, não mamará. A maneira mais simples de saber se um bebê quer mamar ou não é oferecer o peito e
ver o que acontece.”

CHORO E LIVRE DEMANDA
“A livre demanda não significa dar o peito sempre que o bebê chorar. Por um lado, os bebês podem chorar por muitos motivos. Se está claro que ele está chorando por outro motivo, não é preciso dar o peito (mas, em caso de dúvida, melhor sobrar do que faltar. E ainda que estejam chorando por medo, dor ou o que quer que seja, o peito costuma ser a melhor maneira de acalmá-los). Por outro lado, o choro é um sinal tardio de fome. Se um adulto estivesse três ou quatro dias sem comer, provavelmente também choraria de fome. Mas comemos muito antes de chegar a esse ponto, não é? Desde que uma criança mais velha comece a sentir fome até que ela realmente chegue a chorar podem se passar várias horas. Do momento em que um bebê sente fome até que chore podem se passar alguns minutos, ou mais, dependendo da personalidade da criança.

O CHORO É UM SOM DESAGRADÁVEL
O primeiro motivo pelo qual as mães animais e humanas dão o peito é simplesmente para fazer o bebê calar a boca. O choro é um som muito desagradável, que impulsiona a mãe a fazer alguma coisa para acalmá-lo. Peito, colo, carícias, canções, seja o que for, para que ele fique quieto.

SOBRE CHORO, CÓLICA E COLO
Muita gente pensa que a principal causa do choro nos bebês pequenos são os gases. E muitos dos medicamentos que ao longo da história foram recomendados para a cólica do lactente supostamente ajudavam a expulsá-los (esse é o significado da palavra carminativo), ou a evitar a formação de bolhas (nunca entendi por que, mas sim, certas gotas para cólicas são antiespumantes). Por isso, os livros modernos costumam evitar a palavra cólica, e preferem chamar isso de choro excessivo na infância. É lógico pensar que nem todos os bebês choram pela mesma coisa. Algum pode ter dor de barriga, mas outro vai ter fome, frio ou calor, e outros (provavelmente a maioria) simplesmente precisam ficar no colo.

A HORA DA BRUXA
Tipicamente, o choro é produzido principalmente à tarde, das seis às dez horas, a hora da bruxa. Às vezes é das oito às doze, às vezes das doze às quatro, e parece que alguns estão de plantão as vinte e quatro horas. Costuma começar depois de duas ou três semanas, e costuma melhorar por volta dos três meses (embora nem sempre).

BEBÊS CHORAM PORQUE HÁ ALGO ERRADO
Taubman, um pediatra norte-americano, demonstrou que simples instruções para a mãe (tabela 1) faziam desaparecer a cólica em menos de duas semanas. Os bebês aos quais as mães davam atenção passaram de chorar uma média de 2,6 horas por dia a somente 0,8 horas. Enquanto isso, os do grupo controle, que ficavam chorando, choravam cada vez mais: de 3,1 horas passaram a 3,8 horas. Ou seja, os bebês não choram por gosto, mas porque tem algo errado. Se os deixam chorar, choram mais, se tentam consolá-los choram menos. (Uma coisa tão lógica! Por que tanta gente se esforça em convencer-nos justamente do contrário?)

O CHORO É NORMAL E INEVITÁVEL
Os bebês choram. É normal. É inevitável. Os bebês coreanos, os africanos, todos choram. Ainda que estejam no colo as vinte quatro horas do dia, choram. O que acontece é que choram menos. Não estou dizendo que quando o bebê chorar você tem de sair correndo para acalmá-lo. É claro que às vezes você está tomando banho, ou na cozinha com o óleo quase queimando, ou fazendo qualquer outra coisa. Tente pelo menos falar com ele, olhar para ele, sorrir para ele. Se um bebê tiver que esperar, de vez em quando, alguns minutos até que alguém atenda o seu chamado, não é o fim do mundo. O problema é deixar um bebê chorar de propósito e frequentemente. O problema é fazer isso enganada, porque alguém que afirma saber muito (um parente, uma vizinha, o médico, o autor de um livro…) disse que chorar é o melhor para o seu filho, que se você pegá-lo no colo ou consolá-lo ele ficará malcriado.

Só de ler deu vontade de chorar em posição fetal? Então, imagine como é para um bebê.

O choro é, enfim, um processo de comunicação do corpo e das necessidades do bebê (fusionadas principalmente na figura materna).

Vamos desmistificar de uma vez que chorar não é necessariamente o problema?

Porque, talvez, em realidade, o problema seja que queiramos acostumá-los a não precisar de colo. Mas esse é assunto para outro dia.

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