No último Réveillon você colocou a roupa branca – ou amarela, ou rosa, ou vermelha… sei lá o que você desejava pra esse ano, se paz, se um milhão, se um par romântico ou se uma paixão avassaladora daquelas nem se dorme direito – estourou a champanhe e fez seus pedidos de Ano-Novo. E eu tenho certeza de que seu pedido não era nada parecido com poder ir tranquilamente jantar na sexta à noite e depois esticar num show, ou passar o fim de semana na casa dos seus pais ou avós. Sem crise, sem máscara, sem medição de temperatura na porta. Aglomerando mesmo, como homens e mulheres gostam de estar.
No fim das contas o pedido de Ano-Novo ficou meio padronizado pra 2021: liberdade.
Esse valor tão humano, tão importante, que deixa a gente meio sem chão quando nos é tirado. Não é à toa que as sociedades prendem quem faz algo que fere o contrato social, ser privado da liberdade é um castigo terrível.
E o mais interessante é que esse ano ficamos presos por livre e quase espontânea vontade, pelo amor aos outros. Lindo na teoria, doloroso na prática. Chegamos em Dezembro com uma saudade danada de festa, de estádio de futebol, de bar lotado e, principalmente, de algumas pessoas especiais.
Ser livre é ser o que a gente quer. A liberdade de ir e vir foi só uma das faces da liberdade afetada esse ano. A liberdade de ser quem somos também ficou um pouco limitada. Foi muita gente falando e pouca gente ouvindo. Muita lacração e pouca compreensão. Presos em seus apartamentos e em suas vidas, muitas pessoas se tornaram bem agressivas, e essa coisa de dar a sua opinião, tão humana, ficou meio abalada.
Sem contar a classe humana especial de evolução diferenciada, vulgo mães, que entre um home office adaptado e a formação em pedagogia à distância e à jato, perderam até a liberdade de ir ao banheiro. As que ainda tinham, claro, não vamos generalizar.
A questão é que, como tudo nessa vida, tem um lado bom nisso aí. Quando algo nos falta passamos a valorizar mais. Parece papinho de terapia, mas é uma verdade universal… quando nos damos conta de que perdemos alguma coisa, começamos a valorizar muito mais quando reencontramos. É assim com a liberdade, é assim com a alegria, é assim com o amor. Quando você volta a sentir algo que te move fica impensável deixar de ter de novo, e aí tomamos mais cuidado. Nos tornamos mais atenciosos. Nesse sentido, 2021 já deve entrar coroado.
O ano não começa já nos dando esse gostinho da liberdade reconquistada. Seria interessante bater meia-noite e um minuto e pronto, tudo resolvido, bora comemorar, mas não funcionou com o bug do milênio e possivelmente dessa vez também não vai rolar. O fato de nenhum fim do mundo anunciado ter dado certo também nos dá essa segurança, as coisas não são assim tão rápidas, nem pra lá e nem pra cá. Mas, mesmo que ainda demore um tempinho até tudo entrar no eixo de novo, o ano novo vem com o outro significado do verde: a esperança.
Esperança é o motor da humanidade. Não a esperança que espera, a esperança que tem vida, que pulsa. A expectativa de um amanhã melhor é o que faz o hoje ter mais sentido.
Viver o agora intensamente, sem esquecer que tem um amanhã sorrindo pra nós. No meu caso, viver este réveillon na expectativa do próximo na praia, embaixo da chuva de fogos, todo mundo a-glo-me-ra-do. Fique à vontade para esperar pelo próximo Réveillon do seu jeito mais gostoso. E aí fica liberado de novo o festival de cores pros desejos de Ano-Novo, livres.