Desmame: existe desmame gentil?

A amamentação é uma questão que depende de duas pessoas, claro, a mãe e o bebê, que estão em níveis de maturidade e necessidade muito diferentes.

A mãe é adulta, sabe ponderar, consegue postergar se achar necessário, pode fazer escolhas conscientes (mesmo que algumas dessas escolhas não sejam as mais confortáveis).

O bebê está no começo da vida, ainda tem anos pela frente pra amadurecer, aprender, crescer, ainda tem muita coisa pra vivenciar até se tornar adulto e autônomo (até chegar no mesmo nível de sua mãe).

Vocês acham razoável achar que o desmame possa ser uma decisão unilateral da mãe, simplesmente? E que se a mãe estiver cansada (e está, de fato, amamentar pode ser cansativo mesmo), isso é o suficiente para que seus pares, leia-se outras pessoas adultas, apareçam e apoiem seu processo de desmame, sem levar em conta o lado do bebê?

Os bebês não vão se unir para reivindicar a amamentação

Porque, vejam: os pares do bebê não vão aparecer e defender (lembrar, ponderar, contrapor) a manutenção da amamentação por mais um tempinho, mesmo que tudo esteja muito cansativo, até o bebê estar mais preparado pra isso…

Entendem como pode ser complicado desejar/esperar apoio para o desmame nos grupos (abertos ou fechados, presenciais ou em redes sociais, comunidades ou perfis) de apoio à amamentação? Porque a premissa desses grupos é apoiar a amamentação até que AMBOS estejam prontos pra dar o próximo passo, porque se os grupos não se dispuserem a defender o lado do bebê também, ninguém mais o fará.

A questão da ideologia está no cerne dos grupos de apoio, sem ideologia objetiva não dá para viver. A ideologia dos grupos de apoio é (ou deveria ser): apoio para amamentar, apoio para as mães conseguirem dar conta, apoio para os bebês conseguirem mamar pelo tempo que eles sinalizam que precisam, com empatia e sororidade para ambos – não só para a mãe!

O desmame gentil pode acontecer – e ele pede tempo

Sobre o tal “desmame gentil”: quando a criança é mais velha, ela começa a aprender a esperar, a limitar o mamá, a deixar para depois, a aceitar alguma troca. A partir disso, até é possível suave e gentilmente conduzir as coisas no sentido de ir DESLIGANDO os laços da amamentação. Muitas vezes, a criança vai se ressentir dessa condução, outras vezes ela vai aceitar a troca, e isso vai das escolhas de cada família.

Se propomos a APOIAR a amamentação também do ponto de vista do bebê, não dá para falar diferente de tentar dar suporte para que a mãe consiga postergar mais um pouco essa decisão, até que seu bebê se mostre pronto para dar esse passo.

 

Ana Basaglia, publisher da Editora Timo, cofundadora da Matrice – Ação de Apoio à Amamentação e membro Ibfan.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza cookies para melhorar a sua navegação. Política de privacidade