Seu filho sabe o seu salário? Confesso que fiquei com vergonha de dizer o valor para o meu filho…
– Mãe, quanto você ganha?
Essa foi a pergunta que me pegou de surpresa um dia desses. Assim, de “sopetão”, sem nenhuma enrolação antes para amaciar o terreno. Para minha surpresa, a minha reação não foi de responder imediatamente. Houve uma pausa e um misto de sentimentos. Vergonha? Aflição? Dúvida? Espanto? Orgulho?
“Para quê esse menino quer saber isso?”, questionou o meu cérebro irracional, cheio de crenças financeiras enviesadas. Para ganhar um tempo para processar os acontecimentos, respondi com outra pergunta: “Por que você quer saber disso?”
- Só para saber mesmo, mãe…
Pronto, agora vou ter que dar o número.
Filho, a mamãe ganha X mil reais por mês, juntando todos os trabalhos que faço pela minha empresa. - Só isso?
Como assim só isso?? É um excelente salário. Juntando com o valor que o seu pai ganha, conseguimos ter uma vida confortável. Claro que sem luxos, mas não nos falta nada. Aula de inglês, futebol, natação, escola particular, academias, planos de saúde, viagens… até ração especial para três gatos conseguimos comprar. Cada saco custa uma fortuna! - Que pena, achei que éramos milionários… Quero ser um milionário!
Filho, existe uma certa banalização do adjetivo “milionário”. Esse termo é usado popularmente para representar quem é realmente muito rico. Ser milionário parece algo inalcançável, distante, mas aqui em Brasília, por exemplo, quem tem apartamento quitado no Plano Piloto é milionário porque os imóveis custam um grande absurdo.
Essa riqueza toda que está passando na sua cabeça é coisa de bilionário, trilionário… uma vida que nós, reles-mortais-classe-média-padrão, mal conseguimos imaginar como é. E por que você quer ser tão rico?
- Para gastar!
Depois de passar meia hora rindo e conseguir me recompor, expliquei que se ele gastasse tudo, ia voltar a ser o que era antes. Então, qual seria o sentido de tudo?
A gente acumula recursos não para gastar tudo, mas que ele “se reproduza” e seja capaz de nos sustentar e assim a gente possa trabalhar, ou fazer o que gosta, sem se preocupar com as contas para pagar. Quando você tiver dinheiro suficiente a ponto que consiga viver tranquilo caso não esteja trabalhando, dizemos que você alcançou a “independência financeira”, que deveria ser o objetivo financeiro de todas as pessoas. Dependendo do estilo de vida, não precisa ser na casa dos “bilhões”…
- Mas eu quero ter uma Ferrari.
Então corra atrás dos seus sonhos com o seu dinheiro! Não vai ficar dependendo do meu salário para realizar os seus sonhos.
Com um sorriso na boca, ele saiu correndo para jogar bola.. De repente, um frio estranho bateu na minha barriga… um medo! E eu sabia na hora de onde vinha…
Ohhh, menino, vem cá! Mas não vai sair falando para todo mundo o quanto eu ganho não, viu! Fica entre nós, nossa família. E neste instante, em um lapso de segundo, eu perpetuei em mais uma geração família a crença financeira de que falar de salário é algo restrito…
Estarei eu certa, ou errada?
Paula Andrade