Quanto tempo dura a alegria do seu filho ao ganhar um presente novo?

Não sei se você já reparou, mas tenho a impressão de que o tempo de satisfação das crianças quando ganham um presente está cada vez mais reduzido. Tenho observado esse “fenômeno” aqui em casa e com outras famílias também.

Em dezembro comemoramos o aniversário do nosso filho mais velho. O pedido: cards adrenalyn – umas cartinhas com imagens de jogadores de futebol da Copa que servem para brincar. Ele realmente desejava muito este presente. Estava pedindo há tempos e falava disso o tempo inteiro. Compramos e demos. A felicidade foi instantânea! Porém, não durou nem 24 horas. Logo antes de dormir, ele estava meio cabisbaixo e conversamos sobre as comemorações do dia. Perguntei se ele gostou do presente e ouvi como resposta.

– Mamãe, adorei os cards, mas depois lembrei do menino no Youtube que ganhou centenas de cards de uma vez e veio uma mega-power especial, e fiquei triste por ter ganhado poucos.

E foi assim que encontrei o vilão da ingratidão aqui em casa.

Redes sociais são terminantemente proibidas para crianças por aqui. Porém, nos últimos meses, com a Copa do Mundo, deixamos ele ver vídeos de futebol no Youtube. Melhores lances, gols históricos e, no meio disso, vídeos sobre figurinhas do álbum da copa do mundo.

Não tardou para a sensação de infelicidade e eterna insatisfação se instalar nele. Passou a querer comprar figurinhas todos os dias. Nunca tinha o suficiente. Sempre tinha alguma criança no Youtube que conseguiu uma figurinha mais especial do que as dele.

De uma criança normal, passamos a ter um rabugento em casa. Sempre reclamando e comparando a própria vida com a dos influencers. A solução aqui teve que ser radical: acabou o Youtube. Até que ele tenha desenvolvido maturidade emocional para conseguir dissociar o que é vida real e o que é a ilusão da vida na internet. Se é difícil para mim, que tenho 43 anos, imagina para uma criança de 8 anos.

Redes sociais: responsáveis pela insatisfação de toda uma geração?

Não creio que o caso do meu filho seja único. Pelo contrário: pondero se as redes sociais não são a grande causadora da eterna insatisfação de toda uma geração. Da fluidez de suas relações e da dificuldade de vivenciar a gratidão.

É preciso ter claro em mente que as redes sociais são ambientes que direcionam seus integrantes ao consumo. Esse é o objetivo do negócio. E o fazem de maneira bem assertiva, oferecendo, principalmente, “estilos de vida”. Nossas crianças, em especial até os sete anos de idade, ainda não possuem capacidade cognitiva suficiente para diferenciar as mensagens passadas por meio da mídia, não possuem um poder de decisão equilibrado e é neste momento que a presença e o posicionamento por parte dos pais e educadores, com ações planejadas, deve ocorrer para reverter este quadro de consumo inconsciente.

Observo como muitas crianças, pré-adolescentes e jovens estão se tornando vítimas e vivendo para o consumo para serem aceitos em seus grupos de convivência. Esta realidade se complica à medida que o ser vai construindo sua identidade pessoal e sofre todos os dias uma influência direta da propaganda.

Como tem sido na sua casa? Seu filho acessa com frequência as redes sociais? Você consegue perceber padrões de comportamento e consumo que foram resultado da exposição à vídeos da internet?

Por uma questão de evolução tecnológica, as redes vieram para ficar. Impedir o acesso para sempre é impossível. Então, que adiemos ao máximo e, quando liberado, que façamos um acompanhamento próximo do conteúdo, conversando sobre os desejos e emoções que esses vídeos suscitam na gente.

Paula Andrade

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