Seja muito bem-vinda ao texto de hoje! Antes de iniciar sua leitura, saiba que saí do assunto “parto e gestação” para falar de algo maior com o que somos apresentadas, junto com a chegada da maternidade: o dia das mães. Até o final desse texto, você vai saber como dia das mães e o trabalho invisível das mães são dois temas que andam juntos.
A comemoração do dia das mães não é uma exclusividade da sociedade atual, ela vem de um contexto histórico antigo, desde os cultos a deusas que representavam a figura materna e fertilidade.
Dia das mães: uma data ativista?
Não muito longe de nosso tempo, essa data do dia das mães nasceu pela luta de uma mulher, Ann Jarvis, uma mãe que perdeu dez filhos de doenças infantis. Assim como a maioria das mulheres, Ann transformou toda sua dor em luta e seguiu sua vida dedicada a ajudar mulheres que exerciam a maternidade.
Ann se tornou ativista social, militou pela melhora das condições sanitárias, incentivou as mulheres na política e virou referência na sociedade do seu tempo, fazendo história.
Após o seu falecimento, sua filha Ann criou, com outras mulheres também ativistas, a data do dia das mães com o intuito de trazer relevância e visibilidade ao trabalho materno na sociedade.
Com o passar dos anos, a data foi perdendo o sentido, sendo tomada pela indústria, consumo e pelo reforço da invisibilização do trabalho feminino, afinal a organização dos eventos familiares continua sendo das mulheres, quase sempre das mães.
O trabalho invisível da maternidade: não remunerado e desconsiderado
Historicamente, o trabalho é pautado em uma divisão sexista, no qual as mulheres foram criadas para amarem incondicionalmente, cuidarem exaustivamente, estarem bem arrumadas em todas as circunstâncias, com casa e comida feita. Enquanto os homens foram criados para competirem no mercado de trabalho, serem remunerados, buscarem e ainda de quebra, fazem piadas com “escapadinhas” fora do casamento, afinal isso é “coisa de macho”, não é mesmo? (contém ironia).
O exercício do trabalho doméstico foi sendo cada vez mais visto como trabalho gratuito, não remunerado, exercido pelas mulheres à serviço dos homens – enfim, um trabalho invisibilizado.
Nossa organização de vida é pautada nessa cultura: trabalhamos 7,5 horas a mais que os homens e dividimos nosso tempo entre emprego remunerado, trabalho dedicado aos laços de parentesco (família) e toda carga mental que lidar com isso pode trazer.
Todos moram, todos cuidam
Porém, toda organização familiar deveria ser responsabilidade de todos. Essa mudança social que parece precisar começar em um âmbito governamental ou social como o da educação, pode começar também dentro das próprias casa, na distribuição igualitária do trabalho doméstico, no incentivo das meninas ocuparem espaços não ocupados antes, na educação dos meninos sobre respeito e igualdade, na responsabilidade coletiva familiar compartilhada, na divisão do trabalho igualitário com seu companheiro, na participação ativa dele na educação e cuidado com os filhos. Claro que quando possível né? Dia sim e outro também recebemos relatos de dinâmicas familiares que ultrapassam o abuso, o assédio e descambam para a tortura e todo tipo de desgraça social. Mas na média existe um papel para nós nessa mudança.
Só percebi quando virei mãe, o trabalho invisível das mães é real
Antes de virar mãe eu não tinha despertado para a ideia, de que a força do trabalho era produzida e reproduzida fora da produção industrial, mas dependia totalmente destes ambientes de laços de parentescos chamado família, que muitas vezes é o que dá condição e estrutura para que o trabalho fosse feito fora de casa.
Como filha, era natural ver minha mãe fazendo todos os preparativos para as festas familiares recebendo pouca ajuda, uma ajuda desproporcional. Meu pai sempre ajudou, mas o trabalho pesado era de uma pessoa só. Hoje sendo mãe, enxergo o quanto minha vida de filha foi de privilégio e de exploração inconsciente da minha própria mãe. Como mãe, por ter uma agenda mais flexível, me coloco na obrigação de supermulher e carrego a carga do patriarcado automaticamente, me vejo na exaustão de sobrecargas mentais. Por ter mais tempo, acabo puxando “naturalmente” para mim as demandas gerais, mesmo tendo divisão de trabalho em casa o patriarcado que habita em mim ainda me sequestra, refino o olhar cirurgicamente sobre o jeito de enxergar e fazer as coisas, para ser uma referência para minhas filhas, mudando o meu mundo, o delas e o de todos nós, mas CULTURA é foda. CULTURA SOCIAL é foda. A gente não percebe nossa cultura se manifestando, assim como o peixe não percebe a água.
Você também é responsável em mudar nosso mundo, vamos começar?
Você acha que fez sentido para você?
Conta aqui pra mim!
Um beijo da doula e até a próxima!
Referência e recomendação:
Podcast: Prato Cheio – Cuidado ou exploração: quem cozinha no natal?
Toda matéria: A Origem do dia das mães
Lili Szili – Doula de parto, pós-parto e consultora de aleitamento materno.