Você já pensou na herança dos seus filhos?

Certo dia, passando pela tradicional (porém não menos chata) atualização de cadastro no banco, fui surpreendida pela gerente com a seguinte pergunta:

O que você planeja deixar de herança para seu filho? Imóveis, dinheiro físico, bens, empreendimentos?

Eu nunca havia pensado nisso. Por um certo momento, me senti inadequada. Que mãe desnaturada eu sou por não estar amealhando riquezas para o meu herdeiro usar no futuro.

Mas por que eu deveria me preocupar em deixar heranças financeiras para os meus filhos? – Foi a frase que saiu da minha boca para a gerente.

Aí foi a vez da gerente ficar me olhando se sentindo desconcertada e sem saber o que responder.

Naquele dia, pulamos esse item do questionário. Mas a pulga ficou na minha orelha.

O que meu pai me disse quando eu era criança?

Não sei qual idade eu tinha, certamente menos de 10 anos, quando meu pai falou seriamente para mim e para o meu irmão caçula que nós não deveríamos esperar nenhuma herança dele. Que ele fazia questão de gastar todo o dinheiro dele com ele mesmo, e que a responsabilidade financeira dele conosco acabaria com a formatura na faculdade. Levei bem a sério o aviso e, de certa forma, desenvolvi uma fobia por dependência de qualquer pessoa para qualquer coisa. Me preparei para não ter que depender da minha família quando me formasse. Consegui. Pelo menos ainda não precisei de ninguém para nada até hoje, ufa!

Mas me preocupo com os meus filhos. Claro que seria muito mais fácil para se eu morresse de trabalhar e comprasse um apartamento para cada um morar quando for adulto. Mas quero outra coisa para eles… Quero que sintam o frio na barriga, a emoção incrível de enfrentar o medo e conquistar os seus sonhos com o próprio esforço. Essa sensação de poder é que nos faz mover montanhas e que nada, nem ninguém, é capaz de nos fazer sentir, a não ser nós mesmos.

Oferecer bens e valores é garantia? Quem tudo ganha sabe dar valor?

Como pais, acredito que o nosso maior dever é capacitar esses pequenos seres humanos para voar. Dar estudo técnico-científico, ensinar sobre controle emocional, para que tenham as ferramentas necessárias para caminhar com as próprias pernas com segurança. Não vejo como dever garantir carro novo, apartamento para morar, investimentos ou empresas para gerir. Oferecer “bens e valores” aos filhos no futuro não garante necessariamente uma vida mais fácil, ou que estejam “a frente” dos demais. Quem não se esforçou para ganhar, não sabe o valor do que recebe.

Outro dia eu voltei para responder aquela pergunta da gerente do banco:

  • Você tem investimentos com foco no futuro dos seus filhos?
  • Sim! Eu guardo dinheiro para os meus filhos. Eu tenho investimentos no nome deles. Mas não para eles gastarem ou receberam algum bem. Juntamos dinheiro para pagar uma faculdade ou intercâmbio, e assim garantir que esse custo educacional não pese nas nossas contas quando estivermos mais velhos. Então, no fundo, não é bem para eles. Mas para aliviar o peso financeiro da educação deles no nosso orçamento no futuro.

Afinal, a melhor herança que você pode deixar para os seus filhos é o seu próprio planejamento financeiro para a velhice.

Até breve,

Paula Andrade

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