Aaah, me acostumei com você
Sempre reclamando
Da vida
Me ferindo, me curando
A ferida
Mas nada disso importa
Vou abrir a porta
Pra você entrar
E assim, nesse resumo “Doce Vampiro” (mais uma vez, obrigado Rita Lee), chegamos aos últimos dias de 2021, “escancarando a porta” para 2022.
Se já não estava simples antes (“sempre reclamando”), esses últimos 2 anos se superaram. Feridas abertas, cicatrização difícil, marcas profundas. Não sei se vão sumir tão já. Ou algum dia. Perdas. Irreparáveis.
Portas se fecharam e as janelas… também. Reclusão. Distanciamento. Isolamento. E nada está tão ruim que não possa piorar. Tempos sombrios.
Olha o meu copo meio vazio aí, gente.
Mas se o copo pela metade não mata minha sede, pelo menos me mantém vivo para buscar novas fontes de hidratação. E, mesmo com a situação atual (que vai mudar em 2022) e com a opressão (que muitos de nós já viveram), mesmo com nossa voz ameaçada, as ações vão gritar e destruir esse silêncio. Não se apaga a chama da esperança.
E, com essa mesma força, a saúde e a ciência prevalecerão.
VACINAS
Quanta injustiça. Quantos obstáculos. Quantos desafios.
Sou o resultado da minha formação e da informação.
Minha formação veio com ética, responsabilidade, empatia, cidadania.
A informação chega através da ciência. Não existem duas vertentes da ciência. A ciência é uma só, é única. O resto? O resto é silêncio (William Shakespeare).
O mundo já esteve doente várias vezes. E não me refiro às doenças ideológicas, tipo do “bem contra o mal”. Doenças do corpo, infecciosas, que mataram milhões de pessoas através dos tempos. Tempos obscuros. Tempos em que a ciência ou não existia ou era desafiada pelo desconhecimento… esse me parece familiar…
E a ciência foi o copo meio vazio que estimulou a pesquisa e a evolução.
Quase 500 milhões de mortes (somente no século XX) precederam a primeira batalha vencida contra uma pandemia. Há 225 anos, teve início a era das vacinas, pela observação da natureza. Sempre contestadas. Cada uma delas.
Até que em 1980, a OMS declarou que a varíola estava erradicada do mundo, mesmo antes da microbiologia, através da imunização e de ações de saúde pública, ambas fundamentais em outras doenças. A primeira doença extinta oficialmente no planeta Terra.
O Brasil tem um dos melhores e mais completo calendários vacinais públicos do mundo. A FIOCRUZ (maio de 1900) e o Instituto Butantan (fevereiro de 1901) são patrimônios desse país que deveriam ser sempre exaltados, protegidos e respeitados, assim como o SUS (1988). Como questionar a idoneidade, a seriedade, a ética e os resultados dessas instituições?
E, mesmo assim, as taxas de cobertura vacinal no Brasil estão em queda desde antes da pandemia e pioraram, conforme informações do Ministério da Saúde (em 2020, metade das crianças no Brasil não recebeu todas as vacinas que deveria). Isso é mais do que preocupante. É assustador. E evitável.
LEITE MATERNO
Como contestar essa força da natureza, desde a criação do mundo, responsável por reduzir e prevenir, anualmente, 823.000 mortes de crianças menores de 5 anos de idade, 20.000 mortes maternas e a perda de 302 bilhões de dólares?
Aleitamento materno é multifatorial e requer ações multiprofissionais, proteção, apoio e promoção, legislação e fiscalização.
O ENANI (Estudo Nacional de Nutrição e Alimentação Infantil) nos trouxe dados a respeito da evolução das taxas de aleitamento materno no Brasil, entre 2006 e 2019. O aleitamento materno exclusivo em crianças menores de 6 meses aumentou 8,6% (nesses 13 anos).
Nesse mesmo período (13 anos), as taxas de vendas de substitutos de leite materno e o seu lucro aumentaram, respectivamente, 103,4% e 122%.
A proposta da OMS para 2030 é que 70% das crianças abaixo de 6 meses estejam em aleitamento materno exclusivo. A proposta da indústria dos substitutos de leite materno é aumentar seus lucros e sua influência na alimentação infantil, através de produtos ultraprocessados. Quem está mais perto de seus objetivos?
E vamos deixar isso acontecer? Temos como evitar isso? Competir com a “força da grana que ergue e destrói coisas belas”?
Amamentação é resistência, resiliência, persistência. Foi, é e sempre será assim.
Quem sabe faz a hora, não espera acontecer
E assim vamos para 2022. E se vacina e fake news foram das palavras mais usadas em 2021, que para 2022 sejam esperança e transformação.
Leite materno e vacinação para todos.
Ciência e ética para todos.
Leis e fiscalização para todos.
Liberdade e vida para todos.
E teremos muitas oportunidades, inclusive eletrônicas, para isso.
Tivemos e ainda estamos em turbulência. Mas tudo isso “vai passar”.
Meu Deus, vem olhar
Vem ver de perto uma
Cidade a cantar
A evolução da liberdade
Até o dia clarear.
Moises Chencinski é pediatra e homeopata, criador
e gestor do movimento “Eu apoio leite materno”. Pode ser encontrado nos perfis do
Instagram @doutormoises/@euapoioleitematerno/@omelhorprodutodomundo