Feminismo, maternidade e o ato de cozinhar

Você conhece o Guia Alimentar para Crianças Brasileiras Menores de Dois Anos? Ele é um documento para nortear a alimentação dos pequenos. Uma importante mensagem que ele traz é a de que a alimentação preparada em casa, envolvendo alimentos in natura e minimamente processados, deveria ser uma rotina às famílias.

Preparar o próprio alimento traz muitas vantagens

Os benefícios disso já estão mais do que evidenciados, para além da economia que é feita. Ao preparar o meu almoço, eu sei mais sobre o que estou comendo já que fui eu quem decidiu os ingredientes, suas quantidades e modo de preparo. Assim, cozinhar contribui com a saúde das pessoas, mas também do planeta, por reduzir a demanda por produtos ultraprocessados, que geram embalagens, lixos e combustíveis. Além disso, é uma forma de preservar a nossa cultura, revisitando nossas memórias de infância e ressignificando-as.

O ato de cozinhar não é uma tarefa das mulheres, mas da humanidade

Porém, quando trago essa recomendação, indiretamente, estou aumentando a carga de trabalho das mães ou, mesmo, de outras mulheres. Afinal, o ato de cozinhar ainda é considerado prioritariamente feminino. Se não é a própria mãe que cozinha, tende a ser a avó ou, ainda, a empregada doméstica.

Apesar de existir um movimento de resgate e de valorização do cozinhar, essa é uma atividade vinculada ainda a pouco reconhecimento e, inclusive, com representações de opressão feminina. Afinal, por muitos séculos eram as mulheres negras e escravizadas as cozinheiras das casas.

Está mais do que na hora da sociedade assumir que não há nenhum dom da mulher que a torna mais capaz de preparar alimentos e isso tem a ver com algo muito falado, mas ainda distante em muitas casas: a divisão de responsabilidades. Compreender que o cuidado da casa e dos filhos é dever de todos os seus responsáveis é urgente.

Todos comem, todos participam

Se estamos falando de uma família, nas suas mais diversas possibilidades de constituicão, todos podem (ou devem) assumir tarefas mais ou menos complexas. Veja quais etapas estão envolvidas:

⁃ Planejar o que será preparado
⁃ Ir às compras
⁃ Organizar aquilo que foi comprado
⁃ Higienizar, cortar, descascar alimentos para facilitar no dia a dia
⁃ Preparar as refeições
⁃ Organizar o local das refeições
⁃ Lavar a louça
⁃ Limpar a cozinha

As crianças podem cozinhar?

Para os filhos, envolverem-se com algumas dessas etapas da alimentação, além de já conferir ideias sobre suas responsabilidades, é uma ação de educação alimentar e nutricional.

Criança que se envolve com a comida além do momento da refeição é criança que tem mais chances de comer melhor. Além disso, quando a criança está inserida em um ambiente de compartilhamento de tarefas, ela será um agente mais óbvio de rompimento das situações de desigualdade entre homens e mulheres.

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